domingo, 13 de dezembro de 2009

Poeminha Sentimental

Era o céu
e despertei de mim;
me abri
sabia que as estrelas ouviriam:
se brilham, entenderiam também
o que havia em meu olhar.

Era o mar
e no reflexo havia
eu;
e bem no fundo...
o fundo
de mim.

Nada era,
todo esse azul
nada disso era;
na verdade
eram só seus olhos.



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Semelhança (?)


Quando me encontrei, percebi que já não me conhecia mais.
Não havia mais aquela barba branca,
tampouco os olhos caídos de outrora.
Não se percebiam mais os ombros recolhidos
nem mesmo a expressão de cansaço.

O espelho, porém, ao me olhar, via tudo como antes
e não compreendia tamanha surpresa no olhar refletido.

Era mudança de dentro pra fora. Aquela causada pela alegria de descobrir a lágrima doce que lubrifica o espelho da alma.
E esses espelhos comuns... Ah! Eles não refletem nada!

(pre)visão do tempo


A luz trêmula produzindo sombras que brincavam pelos cantos do quarto;
O vento que dançava aos sons dos seus próprios assovios;
As pinceladas das gotas de chuva na tela de vidro da janela;
O caderno rabiscado,
o lápis quebrado,
o livro fechado.
A tristeza é uma segunda-feira chuvosa.

[Ai, as terças de sol!]

quinta-feira, 30 de julho de 2009


Que coisa curiosa é viver. Aprender com os dias, com as pessoas, com as experiências.
Aprender a dizer, quando o que se tem à boca são sentimentos, não palavras. Aprender a ler, quando olhares dizem mais do que livros. Aprender a ouvir, quando um sorriso é doce como música.
Sobretudo aprender a caminhar. Sobre os sonhos de gente que vive com os olhos em seu próprio coração. Sobre as lágrimas de quem encontrou vida nos olhos que sonhavam. Sobre a fé de quem despertou da vida que chorava.
E que seu caminho seja enfeitado por lembranças, mas que elas te permitam acordar. Não vale a pena dormir o que não é real. Mas também não as guarde numa caixa em cima do armário. Deixe-as naquele canto especial do coração para que possam dar-lhe sempre algo novo. Mas cuide de ensiná-las seu devido lugar ou será devorado, minuto a minuto, sem nem sequer perceber que há mundo ao seu redor.
Ah! Como é intensa a magia de aprender, não? E ainda há gente que prefere o conforto de seu porto tranquilo... Eu, não! Eu quero mais é decifrar outros rios e beber de outras ideias. E não é necessário que se preocupe com minhas asas. Mesmo que talvez eu descuide do vôo, tratarei de ocupar-me com um pouso seguro.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

go(s)ta




Não pinga mais

Escorre.

Bebe até a última gota!

E se a gota se esgota?

Delicia-te...

Provaste o prazer de saborear o infinito.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

No Presente


Como era de costume, ao nascer, Arthur ganhou um lindo baú de presente. De madeira lisa, de cor clara, sem nenhum detalhe talhado, apenas com um leve toque de verniz que dava a ele um tom inigualável de objeto novo, preparado com muito cuidado. Junto, o menino ganhou a chave que abriria esse baú.
Assim que tomou consciência de sua existência, Arthur pegou a chave e, com a ajuda de seus pais, abriu o presente que tinha recebido. Nada havia dentro dele. Os pais quiseram mantê-lo aberto, mas o menino preferiu fechá-lo novamente e perguntar aos pais o porquê do baú. “É para guardar o que você receber na vida que seja realmente especial”, disse o pai. “O que for tão bom de lembrar, que faça seu coração doer!”, disse a mãe.
Com o passar dos anos, o menino começou a seguir o que seus pais lhe disseram, mesmo sem entender como uma coisa boa poderia causar dor. Guardava aquilo que achava de importante, mas, principalmente, guardava aquilo que lhe era dado por pessoas importantes. Começou a perceber que muito das poucas coisas que havia no baú tinha sido dado pelos pais, avós e pela professora do colégio. Depois, conforme o número de objetos ia aumentando, alguns amigos da escola também começaram a doar.
Por volta dos quinze anos, Arthur percebeu que uma das pessoas com que ele convivia era mais interessante que as outras, tinha algo de especial. Ele queria mostrar pra ela o que achava e, depois de muito pensar, resolveu fazer isso dando um presente: uma das coisas que havia no baú. Não poderia haver nenhuma prova maior de que ela era especial. Chamou-a num cantinho e deu o presente. Os segundos seguintes pareciam uma eternidade... Ela aceitou o presente e agradeceu, dando em troca um sorriso. O menino rapidamente guardou o sorriso no baú, antes que se perdesse. Assim ele aprendeu que também era bom trocar, e não só, receber. E percebeu que às vezes as pessoas não lhe dão nada em troca, mas mesmo assim é bom presenteá-las. E assim fez, por muito tempo. Até que, uma vez, ao presentear a menina, ela não só não quis dar nada em troca, como também não aceitou o que ele havia levado pra ela. Deixara em cima de um banco e fora embora. Uma corrente de tristeza cortou o coração do menino, que pegou de volta o presente e levou para casa, para que pudesse guardá-lo novamente no baú. Ao abri-lo, percebeu que também o banco em que ela havia deixado o presente estava dentro do baú. E foi aí que o menino percebeu que não há como controlar totalmente aquilo que se guarda.
A vida foi seguindo, Arthur, deixando de ser um menino e o baú, ficando cada vez mais cheio. No decorrer da vida, ele conheceu várias outras sensações, inclusive a “dor de algo bom” de que sua mãe lhe falara. Doou, recebeu, trocou. Conseguiu, com muito esforço, retirar alguns objetos que não lhe traziam boas lembranças, mas para outros não teve jeito. De vez em quando ele pegava uns que estavam bem lá no fundo e olhava, só pra ter as mesmas sensações novamente.
Quando chegou perto dos 80 anos, ele resolveu que era hora de chamar alguns meninos, que deveriam ter as mesmas expectativas e dúvidas que ele, quando estava nessa idade, para mostrá-los seu baú. Notou que não mexia nele há uns anos e se surpreendeu quando olhou para ele. A madeira estava escura e não havia mais sinal do verniz. Algumas marcas modificavam muito a imagem que ele tinha do presente que ganhou ao nascer, umas muito profundas, inclusive. Ele tirou a poeira que cobria a tampa e abriu para mostrar aos meninos. Contou cada detalhe de cada objeto que havia lá dentro e viveu de novo todas as sensações presentes ali.
Ao terminar, percebeu que somente um menino ainda estava prestando atenção, mas não parecia ter apreciado ou, sequer, entendido tudo o que ele havia dito. Ele deu de presente uma bola a cada um dos meninos e sentou-se no sofá. “Acho que as crianças de hoje não gostam mais daquelas coisas que foram importantes pra mim. Elas não tiveram nenhum significado para aqueles meninos...” – pensou. E foi aí que ele percebeu que, por mais importante que fosse tudo o que ele havia guardado no baú por anos, as sensações são intransferíveis. E deixou que os meninos usassem seu próprio baú da maneira que quisessem. Um dia, tudo ia fazer sentido para eles e, quem sabe, eles não guardariam uma imagem daquele baú tão marcado pelo tempo, só pra recordação...

terça-feira, 26 de maio de 2009


Imagine uma criança observando uma roda gigante. Os olhos dela fitam uma cadeirinha em especial e a seguem subindo e descendo. As luzes e cores prendem sua atenção. Mesmo sendo muitas vezes maior do que ela, o brinquedo a encanta e faz nascer uma vontade hipnotizante de experimentá-lo. O medo não é um obstáculo, mas algo que torna a experiência de andar no brinquedo ainda mais excitante. Após algumas voltas intermináveis, a roda finalmente para. A criança se levanta e corre até a entrada. Antes de entregar o bilhete, ela espera ansiosamente pela parada daquela cadeira em especial. Senta-se como quem recebe o devido lugar em um trono. Aproveita cada giro, cada minuto de frio na barriga. Observa, encantada, a rua bem lá do alto e sente um prazer enorme com isso. Ao fim do tempo determinado pelo parque (que sempre será infinitamente curto para aquela criança), ela desce da cadeira e olha para o brinquedo grande, imponente. Sai dali com a alegria de quem experimentou um momento intenso na sua grandeza, inesquecível na sua simplicidade. Coisas de que um adulto não mais entende.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Refletir

Estava fria e pálida. Seus olhos se entrelaçavam ao brilho do sol sobre o mar. Sentada, observava e só. Permanecia imóvel. Era nas águas que se encontravam e, como quem anseia pela alegria do encontro, observava. Por vários minutos, ficou ali, numa estática posição de espera.
Diferentemente dela, o sol não havia parado por um segundo sequer. Se punha, num movimento constante, típico das coisas que existem pela simples razão de continuar.
E ela também continuava. Era importante se dar aqueles muitos minutos de espera.
Um tom fechado começou a envolver o dia e a levá-lo embora. O brilho não tão intenso, comum daquilo que se apropria de outras luzes, começou a ganhar espaço no céu.
Ela, então, se virou lenta e suavemente para frente. Seu corpo se ligou a ele mesmo e seus olhos fitaram-se. Houve uma nova pausa, mas dessa vez, curta. Se levantou e saiu. Não estava suficientemente saciada e não deveria estar. Assim, haveria sempre a ânsia de encontrar-se novamente.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Voo livre


Liberdade é alma querendo sair da casca, é a melodia do salto e a força do impacto. Nada mais é do que pular para dentro de si mesmo e desprender-se.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Escrever é eucaristia. É repartir-se. É doar-se. Além de inspiração (e transpiração, certo?), escrever requer coragem. Não é simples mostrar sua alma ao outro, e não há nada de fácil em deixar-se conhecer. Por outro lado, também não há nada de mais prazeroso do que perceber que se está sendo decifrado.
Escrever é também permanecer na vida. É maneira de vencer o tempo. Primeiro porque o que se põe no papel (ou no caso, na internet) tem o poder de perdurar e ser lido por pessoas de diferentes lugares, em diferentes momentos. Depois, porque se expõe aquilo que há no coração de determinada pessoa em determinado momento, e não há de se viver sempre da mesma maneira. Essencial é transformar-se, renovar-se, dividir-se. Se for por meio das palavras, que sua alma possa, então, ser lida.