segunda-feira, 30 de agosto de 2010

E se...

E se você tivesse somente mais um dia?
E se lhe sobrassem desejos e faltasse tempo?
E se você pudesse rever como foi sua vida até então?
E se não houvesse mais chance de mudar?
E se, naquelas batidas aceleradas de desespero no seu coração,
você sentisse medo?
E se, ao recostar-se para se acalmar, você dormisse...
e no seu sonho lhe fosse dada a oportunidade de criar uma nova vida?
E se você, agarrado ao seu medo, vivesse aquele sonho
de um jeito diferente de como havia sido sua realidade?

E se eu pudesse te acordar e te dizer que tudo
havia sido só um pesadelo?
E se eu pudesse te dar a mão
e te mostrar o que realmente é importante nessa vida?

Irrealidade

Ela tinha uma vida inventada.
Acordava para os seus afazeres fictícios;
contava os pseudo-minutos para que passassem rápido;
se empanturrava de comida-contra-ansiedade;
fazia o que lhe era exigido, sorriso no rosto e cansaço no coração.

Até aquele determinado momento...
Aquele pelo qual ela esperava durante todo o dia falso.
Ela, então, colocava uma roupa confortável e se deitava
feliz por saber que, em seus sonhos, ela poderia ser quem realmente é
e ter a vida que gosta de viver como real.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Chronos

Um dia, o homem resolveu dividir a vida em minutos.
Organizou suas atividades em dias;
Dividiu as obrigações em meses;
Repartiu os objetivos em anos.


Eu prefiro viver com o pé nas coisas que não cabem no tempo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Coração é meio como sapato; quando aperta, fica mais difícil caminhar...

caminh(antes)

Nessa vida se é construtor.
Cada passo que se dá é seguido pela construção do chão onde se vai pisar a seguir.
Uns o fazem das pedras que são atiradas neles;
alguns, de sonhos;
outros, de pessoas.
Eu o faço de dúvidas.
São as coisas que me sinto bem pisando em cima.
E, na verdade, a nossa única certeza é de que cada passo pode virar uma nova jornada.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Criado-mudo

Um dia acordei e as palavras haviam sumido.
E pensei que não cantaria mais aquela canção;
Que não pudesse mais escrever;
Que não pudesse mais orar;
que não pudesse mais...

Fui feliz aquele dia.
Mesmo com tantos medos, fui feliz.
Naquele dia silencioso, eu aprendi
que o mais profundo do que há em nós
não consegue ser dito.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Conversas Secundinas

   - Ha!Ha!Ha! Muito boa essa sua história...

  - Você não tá acreditando, mas é tudo verdade! Eu tenho meus informantes. E é por causa dessa maçã que você foi castigada. Vai viver várias coisas que nem te conto... E tudo por causa de uma maçãzinha! Se ainda fosse uma barra de ouro!

   - Ai, ai! Melhor ouvir isso do que ser surda! Então tá. Fale mais sobre esse castigo aí.

   - Bom, eu não sei muito bem como é, mas sei que envolve dor! E muita! Sei também que tem sangue! Isso sem contar que tudo lá fora foi feito pra gente como eu: vou poder ganhar mais dinheiro que você, vou ser mais forte, mais inteligente e, além disso tudo, vou poder andar sem camisa e ninguém vai se incomodar com meus pêlos.

   - Hum...

   - Não queria te enganar não, mas eu vou ser o rei do mundo! Vou poder fazer tudo o que eu quiser e minha vida vai ser fácil. Já você... Bom, fique sabendo, irmãzinha, que eu vou estar sempre pensando em você, embora saiba da vida triste que você vai ter. É triste não estar no controle de tudo.

   - É, você tem razão...

   - É, eu sei. Fiquei curioso com essa história de ter sangue no seu castigo! Já pensei em várias possib...Opa! O que é aquilo?!

   - “Aquilo” significa que chegou a hora de sair daqui! “Aquilo” é a saída!

   - Sério?! Como você sabe? Ah! Não importa... Mundo querido, aí vou eu!

   - Tchau, maninho! Te vejo lá fora!

   - Psiu! Agora que estamos a sós, me fale uma coisa. Por que você concordou com ele?Por que não disse toda a verdade: que é você quem vai ter a chave pra decifrar o mistério da vida?

   - Pra quê? Ele não iria entender mesmo. Quem sabe lá fora ele não aprende...

sábado, 14 de agosto de 2010

Seu Icídio

Ele dançava ao som indecente dos violões. Se jogava na vida. E, em seus passos, a música girava em torno do que ele acreditava ser real. Imaginava-se num tango doce e quente. E ao levantar da música, sentia seu coração acelerando e batendo e gritando e dançando... como seu corpo.

Foi sua última dança. E aposentou os sapatos.
Sem aquele rosto na plateia, não haveria mais razões para pisar no palco da vida.

Lustrou-os, antes de guardá-los no ármário. Dedicou-se a observá-los por uns minutos.
Talvez não tivesse dado valor a eles... não o quanto mereciam.
Curioso como se repara mais nas coisas quando elas não estarão mais conosco na vida... - pensou.

E rezou. Sentia-se chamado a fazer isso, mesmo sem entender bem o porquê.
Pegou seus sapatos; olhou-se no reflexo do couro lustrado.
Couro curtido, marcado pelos passos.




Abriu o armário, guardou-os. Desligou a música. Apagou a luz.
Fim do espetáculo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A mim

Andei fugindo de mim...
Tentei me perder, esquecer de me buscar na escola;
Não me levei ao parque nem li histórias pra eu dormir;
Me fantasiei pra não me reconhecer.

Não desisti de mim, só queria uma folga de me ver, todo dia,
com essa mesma cara
e as mesmas angústias.

Mas não me julgue, não somos tão diferentes assim.
A verdade é que faço isso
na ânsia de me encontrar.

Esperânsia

Tanto tempo pensando no amanhã.

Envelheci sem ver as horas passarem;
Trabalhei sem buscar felicidade no que fazia;
Li sem absorver;
Amei sem me entregar;

Sobrevivi.

Hoje, esses cabelos brancos me indicam que deveria ter vivido mais.
Que pensar no momento em que se está é a chave para não desperdiçar
a vida.

Tanto tempo pensando no amanhã...
Agora já não tenho mais certeza se ele realmente virá.
Mas aprendi, mesmo que tarde.
Tarde? Isso não existe.
Viverei meu momento presente
esperando que o próximo minuto seja bom
e nada mais.