quarta-feira, 11 de abril de 2012

Faz de conta

Era uma vez uma linda princesa que vivia num castelo no alto da colina mais bonita de todo o reino.

 Um dia, quando ela era bem pequena, uma bruxa má lançou um feitiço que fez com que seu pai sumisse para sempre. Havia rumores de que ele havia sido transformado em uma pedra que ficava perto de um lago atrás do castelo, já que sua mãe costumava ir até lá diversas vezes após o feitiço.

Ela sonhava em ter a sorte das outras princesas mais velhas que conhecia. Encontrar seu príncipe, ter uma linda família, ser um bom exemplo para o povo...

Foi então que, um belo dia, algo que ela não entendia aconteceu com o reino. Parece que ter uma rainha não era assim tão legal para o povo. Então ela e sua mãe tiveram que sair do castelo e se abrigar numa casinha pequena que estava vazia, perto do mercado de frutas.

Aos 12 anos, ela teve que começar a ajudar sua mãe a colher maçãs para que pudessem vendê-las. Ela pensou que talvez isso tivesse sido uma magia feita por alguém para tirar o trono dela e, quem sabe um dia, ela descobriria como revertê-la.

Aos 15 anos, a linda não-mais-princesa estava colhendo frutas, como de costume, quando conheceu um lindo príncipe de uma cidade próxima que passava por ali. Eles conversaram, riram e, antes que pudesse perceber, ela já estava apaixonada. Ele não se importava com o fato de ela não ser mais da dita 'realeza', seu sorriso era só o que importava... aaaaaah...

Então, apaixonada, ela prometeu esperar enquanto ele voltava ao reino para conversar com sua família e logo voltaria para que eles fossem felizes para sempre.

Bom, como ela jamais poderia imaginar, ele não voltou.

Devastada, ela correu para os braços da mãe em busca de consolo e de uma explicação, mas ela já não era mais criança, não havia rumor que escondesse a dor, como a morte de seu pai. Não havia bruxa em quem pôr a culpa.

Os anos foram passando, ela conheceu alguns rapazes, entre eles um caçador bem mais velho que ela, um carpinteiro uns meses mais novo, mas nada que desse certo.

Até que conheceu um homem no mercado e eles se deram bem e decidiram juntar as escovas de dente.

E não se engane. Não foram felizes para sempre. Mas alguns dias têm sido de muita alegria, sim.

E as pessoas começaram a ficar doentes, e o dinheiro nem sempre dava, e as decepções sempre existiram.
Não havia feitiço que pudesse impedi-las.

Ela então viu que nem tudo pode ser como se espera e que a felicidade se encontra nos momentos em que você consegue lidar com o que a vida lhe traz. Que o 'pra sempre' era só uma perspectiva aumentada do 'hoje'.

E ela chegou à conclusão de que as pessoas sempre ensinam como a gente deve viver e como se deve sofrer ou amar.

E que, no fim das contas, a gente vive como pode, sofre quando cabe e mesmo assim consegue ser feliz.

E não há meio ou fim da história pronta num livro. A gente ganha uma pena e a vida nem nos diz um "Ei, menina, cuidado com as palavras! Não ponha muita tinta em certas histórias ou terá um grande borrão manchando aquela página!"

Mas a gente vai escrevendo como dá, do jeito que é possível.

E todo o resto a gente faz de conta que acredita.