quinta-feira, 10 de junho de 2010

Os olhos de Deus

Sentada num banco ao lado de um pequeno parque na praça estava uma senhorinha de cabelos brancos, olhos fitando o longe, numa quase concentração silenciosa. Quase, pois as brincadeiras das crianças impediam qualquer silêncio de perdurar.
Ao vê-la, uma linda jovem de cabelos negros se aproximou, sem nenhum assunto ou coisa assim. Chegou mais perto como um ato automático. Deu a ela um sorriso. Não houve resposta. Virando e voltando em direção ao lugar em que estava, ela ouviu a senhora balbuciar algo que parecia um chamado. Voltou a se aproximar.
_ Preciso de novos olhos. - disse.
A menina não compreendeu e ficou surpresa. Será que ela não podia ver? Por isso talvez não havia respondido seu sorriso...
_ Preciso de novos olhos!
Um sentimento novo palpitou na menina e subiu-lhe à garganta. Ela não poderia descrevê-lo, não sabia lidar com ele. Sentiu que deveria fazer algo por aquela mulher, mas não tinha ideia de como ajudá-la.
_ Você conhece o mar que se vê depois daquela pedra ali adiante? - perguntou à jovem.
Ela assentiu. A mulher então levantou-se com uma certa dificuldade e começou a caminhar em direção à pedra. A menina se surpreendeu... Como aquela senhora sabia o caminho se não podia enxergar? Antes que viesse à cabeça alguma possível resposta, ela rapidamente começou a seguir aquela mulher.
Ao chegarem ao topo da pequena pedra, as duas pararam. A senhora então disse:
_ Diga-me, o que você vê?
A menina então olhou o mar à sua frente. Tomada por aquela experiência, começou a descrever o que via. Disse sobre a cor da água e o quanto parecia uma punhado de gotas escorridas do céu. E que o movimento constante das ondas dava a ela energia pra se mexer também e fazer algo de bom, como se não fosse possível ficar parado diante daquela imagem tão mágica... Falou sobre cada detalhe e o quanto estar ali, com o vento no rosto e o mar à frente, a fazia sentir mais viva.
Após ouvir e absorver tudo, a senhora disse,com os olhos marejados:
_ Sempre que vinha aqui, água era só o que eu podia ver... Sabia dentro de mim que deveria haver mais. Algo que pudesse me trazer ares de juventude, de felicidade. Eu precisava de novos olhos; obrigada por me emprestar os seus.

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