sábado, 14 de agosto de 2010

Seu Icídio

Ele dançava ao som indecente dos violões. Se jogava na vida. E, em seus passos, a música girava em torno do que ele acreditava ser real. Imaginava-se num tango doce e quente. E ao levantar da música, sentia seu coração acelerando e batendo e gritando e dançando... como seu corpo.

Foi sua última dança. E aposentou os sapatos.
Sem aquele rosto na plateia, não haveria mais razões para pisar no palco da vida.

Lustrou-os, antes de guardá-los no ármário. Dedicou-se a observá-los por uns minutos.
Talvez não tivesse dado valor a eles... não o quanto mereciam.
Curioso como se repara mais nas coisas quando elas não estarão mais conosco na vida... - pensou.

E rezou. Sentia-se chamado a fazer isso, mesmo sem entender bem o porquê.
Pegou seus sapatos; olhou-se no reflexo do couro lustrado.
Couro curtido, marcado pelos passos.




Abriu o armário, guardou-os. Desligou a música. Apagou a luz.
Fim do espetáculo.

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